30 de abril de 2012

Diário de Ilusões




Olho atentamente para o espelho
E desconfio de mim
O meu pescoço sustenta uma cabeça que já não me pertence
Penso:
[...]

Eu canto numa praça vazia
As mazelas de um corpo incompatível com a alma
Incomodo os ouvidos mais distantes
Recebo moedas que já não compram nada
Nem mesmo a auforria de minh'alma
Escrava de si

Ando na velocidade da luz
E as horas não passam
Vejo-me congelado num tempo sem registro na história
Invento histórias
Para ocultar verdades sobre mim


Os instantes que a minha mente eterniza são os que eu quero esquecer
Tento me lembrar das coisas boas
E caio de cara no meu vazio
Jogo fora palavras velhas
Arranco as folhas do meu diário de ilusões
Inicio as páginas de um diário novo
E nada de novo me ocorre.

Anderson Lopes

24 de abril de 2012

Tudo Em Mim É Crônico





A dor é física, meu bem

A causa

O excesso

O efeito

O meu corpo responde à agressão
Outrora chorar era remédio
Agora faz doer ainda mais

Tudo em mim é crônico

Agudo

Inveterado


Anderson Lopes

19 de abril de 2012

Quantos Amores Guarda Uma Atriz?

Quantos amores guarda uma atriz
Em seu coração de mil personagens
Em sua face de mil disfarces
Em seu corpo de múltiplas almas?

Quantos pecados comete uma atriz?
E para quantos deuses ela pede perdão
Dizendo ser apenas encenação
Os atos que a levaria ao inferno?

Para quantos céus vai uma atriz?
Quantas vezes ela morre
Para dar vida a outras vidas
Que não morrerm dentro de si.

Anderson Lopes

A Guerra Silenciosa de Um Boêmio

As tuas palavras ficaram em minha cabeça a noite inteira
Nadando em vodka com as minhas idéias
Enquanto tu dormias eu estava aceso
Pegando no tranco cá com os meus botões
Odiando tudo o que sai da sua boca
Fazendo planos para te golpear no instante em que você acordasse
Ensaiei um mau humor e a pior das caras
Decorei todo um texto de ofensas para desfigurar o seu rosto
Para fazê-lo contorcer de surpresa com as minhas palavras inesperadas
Mas logo amanheceu e enquanto você acordava eu pegava no sono...
Vencido pelo cansaço eu te deixei escapar ilesa
De uma guerra silenciosa
Que só existe em minha cabeça.

Anderson lopes

14 de abril de 2012

12 de abril de 2012

Erros Que Se Repetem Por Prazer

Ela continua amando errado
Andando em brasas para merecer o amor de volta
Entrega-se com a mesma facilidade em que se perde
E quando se reencontra nunca está completa

Com o coração nas mãos costurando-o fibra por fibra
E com os olhos afogados em lágrimas
Ela profere falsas promessas
Jura não ultrapassar as barreiras

Mas com o coração costurado e reposto em seu peito vazio
Um novo amor começa a dar sinais...

Anderson Lopes

4 de abril de 2012

Um Blues

Eu queria ter toda a força que aparento
Toda a garra que aos outros faço supor
Mas quando a porta se fecha
E a luz se apaga
A fortaleza desaba
E o menino indefeso assume o papel

Deitado no chão do meu quarto
Meus olhos são dois vulcões acordados
Derramando lavas sobre o meu rosto
Deixando suas cicatrizes
Como varizes que vão dos meus olhos até o chão...


Anderson Lopes

Entre Fumaças

Hoje eu te amo como jurei que não mais te amaria
Com aquela força autodestrutiva que já conhecemos
Me empurrando para o vazio que tanto temo
Mais uma vez

Com o cigarro entre os dedos
Vejo o seu rosto se dissipando entre fumaças
Formando uma nuvem negra sobre a minha cabeça
Tapando o meu sol com a sua frieza
Mais uma vez.

3 de abril de 2012

A bandeira do Bandeira

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Das palavras feitas para encantar

Comover

Do lirismo que faz brotar água dos olhares mais secos



Quero antes o lirismo dos loucos

O antilirismo dos ignorantes

O lirismo difícil e pungente dos bêbados

O lirismo que estilhaça as vidraças do pudor

O lirismo marginal de Bukowski


Não quero saber do lirismo que enquadra

Que padroniza

Não quero saber do lirismo que não é libertação.


Anderson Lopes e a "Poética" de Manuel Bandeira

O Trevo de Quatro Folhas


“Você devia se valorizar. Até onde você acha que vai com esses seus ‘poeminhas’ de menino que não soube virar homem? Olhe para você. Olhe esta casa, esses papéis espalhados, amontoados de palavras que só dizem alguma coisa para você. Saia. Procure um trabalho. De preferência aqueles que te deixam de cama nos finais de semana sem ânimo até para olhar em volta. Assim sua mente não conversa com o seu corpo e você para de vez com essa ‘viadagem poética’.”
Isso que ela me disse depois de meia dúzia de trepadas. Era isso que ela dizia sempre. Por que ela nunca despejava seu ódio antes, durante a porra do jantarzinho romântico repleto de pratos afrodisíacos para garantir a potência do meu pau? Ela sabia que essas palavras o atingiam diretamente. Velha vagabunda! Fui eu que a transformei numa putinha assanhada. Antes de mim tinha a xoxota tão fria e inanimada quanto um imã de geladeira. Sim, eu devia me valorizar e negá-la no instante em que seu tezão estivesse prestes a fazê-la entrar em combustão. Seria lindo, até poético, ver aquele corpo se contorcendo e eu a provocando com o meu pau que ela não resistia nem em dias de febre. Mas era eu quem não resistia àqueles peitinhos de quarentona, nunca chupados antes de mim. Fui eu quem tirou a virgindade e a sensibilidade daqueles seios adolescentes que, como eu, não souberam amadurecer. Seios adolescentes... Ela agradecia piedosamente aos seus filhinhos por terem rejeitado o leite materno. Como ela sentia orgulho daquelas tetas de vaca virgem, nunca sugados por bezerrinhos famintos. Exibia-os como quem dizia: “Estes o tempo não alcançou!”. E tinha a tatuagem. Um trevo de quatro folhas em volta do mamilo esquerdo com a palavra sorte escrita em japonês. Como era ridículo. Como tudo o que ela fazia para parecer mais jovem era ridículo. Shortinhos, cabelos postiços e o irritante vocabulário cheio de gírias, do tempo da avó de minha avó, ditas com um chiclete na boca que nunca se desgastava.

***

E como foi intensa aquela última trepada. A meia dúzia. Ela se entregou incansável, como se pressentisse sei lá o quê. Talvez a minha morte. Depois que eu parei de cobrar ela queria sempre mais. Nunca passei da quarta. Para chegar até a sexta eu precisaria de uma entidade em meu corpo. Já não era eu quem estava ali servindo aquela Hilda Furacão. Entregou-se como quem procura algo nunca antes encontrado. A última chance. O êxtase antes do fim. Se ela encontrou eu não sei. A reação final foi igual a todas as outras. O uivo de cadela no cio. As unhas de gata assanhada cravada em minhas costas. Isso sim foi diferente. Dessa vez as unhas cravaram as minhas costas e toda a entidade presente em meu corpo já sem reação. Mas eu não morri. Dessa vez não.

***

Gastamos todo o vinho, todos os cigarros e todo o tesão. Depois de saciada ela já não se sentia na obrigação de me agradar. Então vinham as palavras de desdém e os insultas por eu ser um poeta frustrado, beberrão e desempregado. Depois de tudo dito, a última parte do ritual: Ela se vestia, arrumava o cabelo, retocava o batom e pedia para que eu beijasse o seu trevo de quatro folhas em volta do mamilo. Dizia que eu precisava de sorte. Se eu não tinha sorte chupando aquela folha, não era um simples beijo que ia mudar minha vida. Mas eu beijava. E ela ia embora. Mas mal sabia ela (ou sabia?) que dessa vez não era eu quem precisaria de sorte...

***

Sete dias se passaram e eu já gastei todo o vinho, o cigarro e os discos do Tony Bennett.
Ela agora está morta. E eu cada vez mais um poeta perdido em palavras de homem mal crescido, que já não dizem nada nem mesmo para mim.

2 de abril de 2012

O Descobridor

Acabou.
O amor sem medidas descobriu o seu tamanho
E ele não é do tamanho que pensamos.
Cabe no meu bolso;
Cabe no teu seio;
Dentro do teu sutiã.


Meu bolso furado.
Teu seio topless na areia.
O nosso amor sem morada.

Aliança no esgoto
Gosto de alívio no céu da boca.
Saliva em outras bocas.
Beijo a vida.
Fodo a liberdade.
Descubro-me só.


Anderson Lopes

Por Onde Andará Ms. S. A.??

Doce atriz protagonista
De minhas fantasias mais surreais
Em que palco tu agora encenas
O amor que um dia decoraste
Para representar para mim?

Anderson Lopes

Rosinha

Rosinha é desprovida de beleza
Mas o seu corpo é uma represa
Para nela se nadar e se perder

Rosinha já iniciou vários meninos
E remoçou muitos velhinhos
Que na vida não sentiam mais prazer

Rosinha
Pesadelo de esposas
que pelos maridos padecem a noite toda
E dormem sozinhas com os seus filhos

Rosinha
Lembro quando era pequena
A menina já fazia cena
De mulher de mil ofícios.

Anderson Lopes