19 de setembro de 2012

Ser Noturno


Com Imagem de: Ricardo Alves
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Meia noite de uma vida inteira sem dormir
A meia luz de uma lua cheia eu reflito
Sobre o que poderiam ter sido os meus dias
Se eu não me esquivasse tanto do sol

Eu não teria essas olheiras de vida mal vivida
Eu teria mais sombra
Para dividir comigo as responsabilidades do corpo...

Meia noite
E as lembranças são seres indesejáveis
Saindo debaixo da cama em que o passado dorme
Para me assombrar

Ah, como é leve o sono do passado
E quanto lixo ele acumula debaixo de sua cama!

Mas os grandes olhos da noite são ternos e consoladores
Imensos olhos vigias de mãe
Que me observam por detrás das cortinas
Olhos que não se fecham enquanto o filho não chega
Enquanto o filho não dorme

Doces e complacentes os olhos da noite!
Confortam-me
Protegem-me
E enfim adormeço...

[Anderson Lopes]


4 de setembro de 2012

Aos Olhos do Grande Centro


Espreitam-me os olhos da rua
Pupilas dilatadas
Pesa-me o seu olhar
Constrange-me
Mas não me paralisa
E eu sigo
Despido pelo grande centro

Esquinas, avenidas, viadutos me atravessam
Os carros atropelam a visão “feliz de cidade”
E os meus olhos se lançam suicidas do alto dos prédios sem fim

Os arranha-céus sangrando as nuvens
Os Homens Máquinas sem controle
Os Anti Homens Máquinas sem uso
E eu
Compomos a paisagem que dilata os olhos da rua

Mas a minha alma a rua não enxerga
O grande centro não me despe por completo
E eu sigo embalagem
Prejulgado
Mas com a alma intacta...

“E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso...”

[Anderson Lopes]