29 de maio de 2014

Quantos Amores Guarda Uma Atriz?


Quantos amores guarda uma atriz
Em seu coração de mil personagens
Em sua face de mil disfarces
Em seu corpo de múltiplas almas?

Quantos pecados comete uma atriz
E para quantos deuses ela pede perdão
Dizendo ser apenas encenação
Os atos que a levaria ao inferno?

Para quantos céus vai uma atriz
Quantas vezes ela morre
Para dar vida a outras vidas
Que não morrem dentro de si?

[Anderson Lopes]

8 comentários:

  1. No fim de mais um espetáculo, creio que ela morre todas as noites.

    ResponderExcluir
  2. em hamlet encontramos "The play's the thing/Wherein I'll catch the conscience of the king."[ato 2], enquanto ouvia um pequena atuação de um ator contando violência do grego Pirro contra o rei Príamo... a tal ponto o ator se emociona e caem lágrimas de sua face; ele se contorce numa dor que não lhe é próxima... o ator morre com Príamo... e Hamlet se espanta: tendo todos os motivos do mundo para vingar a morte do pai por um tio insidioso, enquanto via um ator por nada, por vento, se emocionar e gritar aos céus por causa de Hécuba... verdade o ator captou o centro daquela consciência entre Pirro, Príamo e Hécuba, o que por trás dos panos velamos...

    um abraço

    shakespeare - hamlet [ato 2] excerto

    Is it not monstrous that this player here,
    But in a fiction, in a dream of passion,
    Could force his soul so to his whole conceit,
    Teares in his eyes, distraction in's aspect,
    A broken voice, and his whole function suiting
    With forms, to his conceit? And all for nothing?
    For Hecuba?
    What's Hecuba to him, or he to Hecuba,
    That he should weep for her?
    [...]
    I'l have these players,
    Play something like the murder of my father,
    Before mine uncle. I'l observe his look,
    I'l rent him to the quicke: If he but blench
    I know my course. The Spirit that I haue seene
    May be the Devil, and the Devil hath power
    To assume a pleasing shape, yes and perhaps
    Out of my weakness, and my melancholly,
    As he is very potent with such Spirits,
    [...]
    The Play's the thing,
    Wherein I'l catch the Conscience of the King.

    ResponderExcluir
  3. Sábios questionamentos , Anderson . Gostei , como sempre . Beijos

    ResponderExcluir
  4. Coisa mais bonita, Anderson. Quão misteriosa, instigante e por vezes dolorosa pode parecer a face de quem precisa se desfazer na morte diária do outro pra viver em si?

    ResponderExcluir
  5. Que maravilha de poesia!
    Tinha saudades daqui, prometo voltar cedo dessa vez.
    Abraço.

    ResponderExcluir
  6. lindos versos!
    vc sempre com essa sensibilidade inteligente...

    vi um pouco de Chico Buarque nesses.

    bjo

    ResponderExcluir
  7. Fiquei sem palavras, Anderson.Seu poema é maravilhoso!

    Beijo.

    ResponderExcluir