2 de maio de 2012

Jantar Indigesto [Cospe ou Engole?]



Veja ali na mesa
O casal
Jantando
Reparem nos olhos dela
Olhos inquisidores
Ameaçadores
De águia prestes a atacar a presa
Reparem nos olhos dele
Olhos caídos
Indiferentes
De presa inconsciente da ameaça

O silêncio seria total
Não fosse o barulho do mastigar das bocas
E como ela mastiga
Não a comida
A palavra
Ela não engole
Rumina
A palavra já fria
Sem sabor
Esperando o momento exato de cuspi-la
E enquanto mastiga
Ela não tira os olhos de cima dos olhos caídos dele

Na parede o relógio registra
A eternidade dos segundos...

[...]

De repente
Ele levanta os olhos
Encara-a
Ela se assusta
Torna-se a presa
Tão indefesa quanto a águia fora de seu habitat
Ele quebra o silêncio das vozes:
- O que foi? Parece assustada. Quer me dizer algo?
Ela não responde
Engoliu, sem querer
A palavra
Então, derruba os olhos em direção ao seu prato
E mastiga
Não a palavra
A comida
Já fria
Sem sabor...

Sim, a vingança é um prato que se come frio.

Anderson Lopes

3 comentários:

  1. "Na parede o relógio registra
    A eternidade dos segundos..."

    Quando os minutos são horas e os dias são anos
    é porque deixamos de viver para apenas suportar.
    conviver.


    Adorei a forma como brinca com as palavras,
    Fantástico.



    Beijo:)

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  2. "Engoliu/ sem querer/ a palavra". Uia! Se soubesse o que este verso provocou em mim! Eu pularia no seu pescoço e te abraçaria bem apertado por toda a emoção! (fiquei aqui pensando em como fazer um comentário poético do que senti, não deu! ficou infantil, mas é isso mesmo que eu queria dizer! Tá dito.)

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  3. -Abraçar o Tempo, você acertou a seta no alvo

    -VerMent*, quantas palavras engolimos sem querer, não é? Obrigado pela reação. Valeu mais que um comentário poético.

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