3 de abril de 2012

O Trevo de Quatro Folhas


“Você devia se valorizar. Até onde você acha que vai com esses seus ‘poeminhas’ de menino que não soube virar homem? Olhe para você. Olhe esta casa, esses papéis espalhados, amontoados de palavras que só dizem alguma coisa para você. Saia. Procure um trabalho. De preferência aqueles que te deixam de cama nos finais de semana sem ânimo até para olhar em volta. Assim sua mente não conversa com o seu corpo e você para de vez com essa ‘viadagem poética’.”
Isso que ela me disse depois de meia dúzia de trepadas. Era isso que ela dizia sempre. Por que ela nunca despejava seu ódio antes, durante a porra do jantarzinho romântico repleto de pratos afrodisíacos para garantir a potência do meu pau? Ela sabia que essas palavras o atingiam diretamente. Velha vagabunda! Fui eu que a transformei numa putinha assanhada. Antes de mim tinha a xoxota tão fria e inanimada quanto um imã de geladeira. Sim, eu devia me valorizar e negá-la no instante em que seu tezão estivesse prestes a fazê-la entrar em combustão. Seria lindo, até poético, ver aquele corpo se contorcendo e eu a provocando com o meu pau que ela não resistia nem em dias de febre. Mas era eu quem não resistia àqueles peitinhos de quarentona, nunca chupados antes de mim. Fui eu quem tirou a virgindade e a sensibilidade daqueles seios adolescentes que, como eu, não souberam amadurecer. Seios adolescentes... Ela agradecia piedosamente aos seus filhinhos por terem rejeitado o leite materno. Como ela sentia orgulho daquelas tetas de vaca virgem, nunca sugados por bezerrinhos famintos. Exibia-os como quem dizia: “Estes o tempo não alcançou!”. E tinha a tatuagem. Um trevo de quatro folhas em volta do mamilo esquerdo com a palavra sorte escrita em japonês. Como era ridículo. Como tudo o que ela fazia para parecer mais jovem era ridículo. Shortinhos, cabelos postiços e o irritante vocabulário cheio de gírias, do tempo da avó de minha avó, ditas com um chiclete na boca que nunca se desgastava.

***

E como foi intensa aquela última trepada. A meia dúzia. Ela se entregou incansável, como se pressentisse sei lá o quê. Talvez a minha morte. Depois que eu parei de cobrar ela queria sempre mais. Nunca passei da quarta. Para chegar até a sexta eu precisaria de uma entidade em meu corpo. Já não era eu quem estava ali servindo aquela Hilda Furacão. Entregou-se como quem procura algo nunca antes encontrado. A última chance. O êxtase antes do fim. Se ela encontrou eu não sei. A reação final foi igual a todas as outras. O uivo de cadela no cio. As unhas de gata assanhada cravada em minhas costas. Isso sim foi diferente. Dessa vez as unhas cravaram as minhas costas e toda a entidade presente em meu corpo já sem reação. Mas eu não morri. Dessa vez não.

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Gastamos todo o vinho, todos os cigarros e todo o tesão. Depois de saciada ela já não se sentia na obrigação de me agradar. Então vinham as palavras de desdém e os insultas por eu ser um poeta frustrado, beberrão e desempregado. Depois de tudo dito, a última parte do ritual: Ela se vestia, arrumava o cabelo, retocava o batom e pedia para que eu beijasse o seu trevo de quatro folhas em volta do mamilo. Dizia que eu precisava de sorte. Se eu não tinha sorte chupando aquela folha, não era um simples beijo que ia mudar minha vida. Mas eu beijava. E ela ia embora. Mas mal sabia ela (ou sabia?) que dessa vez não era eu quem precisaria de sorte...

***

Sete dias se passaram e eu já gastei todo o vinho, o cigarro e os discos do Tony Bennett.
Ela agora está morta. E eu cada vez mais um poeta perdido em palavras de homem mal crescido, que já não dizem nada nem mesmo para mim.

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